Ferdinand de Saussure (Pronúncia francesa: [fɛʁdi'nã də so'syʁ]; Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de 1913)[1] foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Seu pensamento exerceu grande influência sobre o campo da teoria da literatura e dos estudos culturais.[2]
Saussure entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs fosse chamada de Semiologia. Graças aos seus estudos e ao trabalho de Leonard Bloomfield, a linguística adquiriu autonomia, objeto e método próprios. Seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX.
Biografia
Filho de um eminente naturalista, foi introduzido pelo filólogo e amigo da família Adolphe Pictet nos estudos linguísticos.[3] Saussure estudou Física e Química, mas continuou sendo introduzido nos cursos de gramática grega e latina. Em 1874 começou a estudar sozinho o sânscrito, usando a gramática de Franz Bopp.[3] Por fim, convenceu-se que sua carreira estava nos estudos da linguagem e ingressou na Sociedade Linguística de Paris (fundada em 1866). Estudou línguas europeias na Universidade de Leipzig, onde ingressou em outubro de 1876. Após pouco menos de dois anos, transfere-se por curto período à Universidade de Berlin.[4] Aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias (em francês: "Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes" - ano 1879),[4] a qual foi muito bem aceita. Defendeu sua tese sobre o uso do caso genitivo em sânscrito, em Berlim, e depois retornou à Paris, onde passou a ensinar Sânscrito, Gótico e Alto Alemão e depois Filologia Indo-Europeia. Retornou a Genebra, onde lecionou sânscrito e linguística histórica em geral.
Entre 1907 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre linguística na Universidade de Genebra.
Em 1916, três anos após sua morte, dois de seus alunos, Charles Bally e
Albert Sechehaye, com a colaboração de A. Ridlinger, compilaram as
anotações de alunos que compareceram a estes cursos e editaram o Curso de Linguística Geral, livro seminal da ciência linguística.[5]
Paralelamente ao trabalho teórico reunido no Curso, Saussure também realizou, entre 1906 e 1909, outro estudo que é comumente chamado de Os anagramas de Saussure[carece de fontes]. Nesse trabalho, o mestre genebrino perscrutou um corpus
de poemas clássicos para tentar provar a existência de um mecanismo de
composição poética baseado na análise fônica das palavras; mecanismo
este formado pelo anagrama e pelo hipograma. O hipograma (palavra-tema) é
o nome de um deus ou de um herói diluído foneticamente no poema. O
anagrama, por sua vez, é o processo que propicia a diluição do hipograma
nos versos.
As dicotomias saussureanas
- Língua X Fala
Saussure também efetua, em sua teorização, uma separação entre língua
e fala. Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos
outros. Ela está depositada como produto social na mente de cada
falante de uma comunidade e possui homogeneidade. Por isto é o objeto da
linguística propriamente dita. Diferente da fala que é um ato
individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não
linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.
- Sincronia X Diacronia
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica
da linguística histórica, a qual estudava a mudança dos signos no eixo
das sucessões históricas, estudo este que era a maneira pela qual o
estudo de línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Ao propor uma visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico).
- Sintagma X Paradigma
O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas
mínimas numa unidade lingüística superior”, surge a partir da
linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar
dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a
partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o
paradigma é, como o próprio autor define, um "banco de reservas" da
língua, fazendo com que suas unidades se oponham, pois uma exclui a
outra.
- Significante X Significado
O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e
significado, como se fossem dois lados de uma moeda. O significante é
uma "imagem acústica" (cadeia de sons) e reside no plano da forma. O
significado é o conceito e reside no plano do conteúdo.
A teoria do valor
A teoria do valor
é um dos conceitos cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente,
esta teoria postula que os signos linguísticos estão numa relação
diferencial e negativa entre si dentro do sistema de língua, pois um
signo só adquire valor na medida em que não é um outro signo qualquer:
um signo é aquilo que os outros signos não são.
Referências
- SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. 30ª Edição. São Paulo: Cultrix, 2002. ISBN 85-316-0102-9
- Suzanne Kemmer. Biographical sketch of Ferdinand de Saussure. Ling 403: Foundations of Linguistics. Rice University. Página visitada em 23 Dezembro 2011.
- DAVIES, Anna Morpurgo. Saussure and Indo European linguistics In: The Cambridge Companion to Saussure. Carol Sanders (edit.). Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 14.
- DAVIES, Anna Morpurgo. Saussure and Indo European linguistics In: The Cambridge Companion to Saussure. Carol Sanders (edit.). Cambridge: Cambridge University Press, 2004, p. 15.
- PIETROFORTE, Antonio Vicente. A língua como objeto da Lingüística. In FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingüística. I. Objetos teóricos. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2004. ISBN 85-7244-192-1